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22.11.09
Giro de Notícias
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16.11.09
Natureza Indescritível
Vi a seguinte pergunta de Jean Paul Satre: “Quem sabe se o mundo não seria melhor sem os homens?”.
E eis a minha resposta:
Em uma imagem azul, límpida e inabitada, em um distante Planeta quase vazio, sem os seres pensantes, para entender quão belo é aquele lugar, enquanto algum Deus egoísta e super-protetor observa, de longe, sua criação, as cachoeiras derramam, em lágrimas, a solidão daquelas que, jamais, serão lidas em romances.
Fazendo movimentos rotineiros, as formigas trabalham, diariamente, acordando com o sol e dormindo, ao anoitecer, abelhas buscam alimentos nas plantas, o beija-flor procura o néctar nas flores mais lindas, a lagarta se encanta, para, depois de vinte e quatro horas, morrer como uma, incrivelmente, bela e colorida borboleta, a corrida de difícil alcance do jaguar, a branquidão da lebre, imperceptível em um campo níveo; uma onça camuflada, no meio da selva, espera a próxima vítima; a irrecusável sedução do pavão, a dança iluminada das águas-marinhas reunidas em alto mar, o aviso soante to bem-te-vi, o canto hipnotizador do uirapuru, essas artes tão perfeitas, nunca terão a chance de exibir-se a olhos contemplativos.
Quem descreverá a doçura do mel, conhecendo apenas o sabor de um beijo apaixonado e lembrará, com saudades, a magia da natureza nunca vista? Afinal, de que serve tanta exuberância sem as humildes palavras para descrever tudo?
Qual é a sua resposta?
5.11.09
Peixe Grande (História de Pescador)
Hoje a chuva intensa tomou conta do céu, e, olhando para cima, a única imagem que vejo é o negrume da noite. Há dois anos uma tempestade parecida visitava a cidade. E eu vivi aquilo de perto.
Em uma sexta-feira muito interessante, meus planos eram, depois da aula, ir pescar, pois a maré estaria cheia. Já em sala, as horas passavam como na espera de um grande peixe, e, quando fomos avisados da saída, pediram-nos que esperássemos o temporal cessar. Enquanto isso, saí às escondidas para último andar do prédio onde eu estudava, e o mar estava realmente cheio. Desci sorrateiramente para pegar meu material de pescaria no carro. Preparei tudo lá mesmo: a vara, a linha, o molinete. Voltei ao parapeito do prédio, e, dali, arremessei a isca o mais distante que pude, mas nada aconteceu. Repeti o movimento mais algumas vezes, em vão.
Tentei uma última vez, e algo mudou. Senti um peso diferente, então, encostei meus pés com firmeza no chão, apoiei meu corpo na mureta e comecei a puxar e soltar, repetidas vezes. Liguei o recolhimento automático que havia no molinete. Era um peixe gigante, que saiu da água e trouxe o engarrafamento junto. Os carros paravam como se uma carroça atrapalhasse o trânsito. Ele cavalgava, lentamente, lutando pela vida, quando, por fim, olhou-me com aqueles olhos enormes e tristonhos, que se fossem humanos, estariam chorando. Senti tanto dó, que cortei a linha, e o maior peixe que fisguei voltou saltitante, entre os carros, ao Atlântico.
Tenho a impressão de que era uma truta, que não se contentou em viver em um rio, onde limitava seu direito de crescer. Deixá-lo na terra seria privá-lo da imensidão do oceano.